Presencial
Palestra Andrew Ng

Para mim, um dos melhores momentos da minha última ida a San Francisco foi poder assistir à palestra do Andrew Ng e ainda tirar uma foto com ele.
A palestra foi um bate-papo com nosso Executive VP e Chief Scientist na Salesforce, Silvio Savarese, com o título “Building with AI: Speed, Smarts, and Scale”, durante o Dreamforce.

Pode parecer um detalhe pequeno para quem olha de fora, mas para mim teve um peso enorme. Não só pelo conteúdo técnico, mas pelo simbolismo. Estar ali, ouvindo uma das mentes mais influentes da história da IA, falando de futuro de forma prática, pé no chão e acionável.
TL;DR
Um dos pontos altos da minha última ida a San Francisco foi assistir à palestra de Andrew Ng e conversar brevemente com ele.
Andrew Ng é uma das maiores referências globais em Inteligência Artificial, com impacto profundo em academia, mercado e educação.
A palestra reforçou que programar está ficando cada vez mais acessível e mais estratégico.
IA está ampliando drasticamente a produtividade dos melhores desenvolvedores e criando um gap perigoso para quem não se adapta.
O custo de software está caindo e a personalização vai explodir.
O verdadeiro valor da IA está em saber estruturar dados, contexto e instruções claras.
O futuro pertence a quem constrói, não apenas a quem observa.
Quem é Andrew Ng?
Talvez muita gente não saiba, mas eu realmente admiro muito o Andrew Ng. De verdade. Não é admiração superficial. É profunda, genuína e construída ao longo de anos.
O Andrew Ng é uma dessas raras combinações de rigor acadêmico, visão prática e obsessão por impacto em escala. Ele passou por algumas das instituições mais importantes do mundo, como Carnegie Mellon, MIT e Stanford, onde se destacou desde cedo em Machine Learning aplicado.
Mais do que papers ou títulos, o que sempre me chamou atenção nele foi a pergunta que guiou sua carreira: como transformar avanços acadêmicos em tecnologia útil para milhões de pessoas?
Essa mentalidade o levou a co-fundar o Google Brain, ajudando a colocar Deep Learning no centro da estratégia do Google, e depois a liderar a área de IA da Baidu como Chief Scientist, estruturando uma das maiores organizações de IA do mundo.
Mas talvez o maior legado do Andrew Ng esteja na educação. Milhões de pessoas tiveram o primeiro contato estruturado com Machine Learning através de seus cursos. Ele mostrou que é possível explicar conceitos matemáticos complexos de forma clara, prática e acionável. Isso mudou carreiras, empresas e o próprio mercado de IA.
Para mim, o melhor conteúdo técnico de IA, disparado, é o que o Andrew disponibiliza na DeepLearning.ai de maneira gratuita. Mais um dos empreendimentos educacionais do Andrew Ng, além do Coursera que ele também co-fundou (o cara é sensacional!).
Mais recentemente, com o AI Fund, o fundo que fundou (pun intended haha), ele reforçou algo que sempre defendeu, que o valor real da IA não está no hype, mas na execução, em resolver problemas reais com tecnologia bem aplicada.
Um paralelo pessoal (com toda a humildade necessária)
Guardadas todas as proporções e reconhecendo minha insignificância perto do Andrew Ng, existe algo nele que me inspira profundamente.
Eu tento fazer, no meu contexto, algo semelhante. Ensinar Machine Learning e Inteligência Artificial de forma didática e palatável, mas em Português, na nossa realidade brasileira, e com foco em executivos e líderes de negócios. Comecei anos atrás com a comunidade BRAINS - Brazilian AI Networks, que impactou milhares de brasileiros e chegou a ter 110 mil acessos mensais no site. Comunidade onde treinamos milhares de pessoas em AI e ML de forma gratuita e online.
Eu amo traduzir complexidade em clareza. E hoje meu objetivo é tirar a IA do pedestal técnico e colocá-la na mesa de decisão.
Por isso, ter uma foto com esse mito foi algo muito especial. Para mim, é comparável a um designer ter uma foto com o Steve Jobs. Ou um aspirante a jogador de futebol tirar uma foto com o Messi.
Os principais aprendizados da palestra “Building with AI: Speed, Smarts, and Scale”
A palestra em si foi extremamente rica. Vou destacar aqui os pontos que mais me marcaram, complementando com a minha visão.
Programar nunca foi tão fácil e tão importante
Andrew trouxe uma linha do tempo simples e poderosa. Saímos de cartões perfurados para linguagens de baixo nível, depois para linguagens de alto nível. Cada vez mais fácil.
Agora, com IA, programar ficou ainda mais acessível. Isso não diminui a importância da habilidade. Pelo contrário. Amplifica.
Com a programação ficando mais fácil, todo mundo deveria aprender.
O gap perigoso entre desenvolvedores
Um ponto que achei especialmente importante foi a observação sobre perfis de desenvolvedores.
Os melhores estão voando com IA. Os mais novos já estão mergulhando de cabeça. O grupo do meio, muitas vezes mais experiente, está resistindo.
E aí mora o problema. Como ajudar esse grupo a passar por um processo de reciclagem e upskill? Ignorar a IA hoje é um risco real de obsolescência para todos.
O custo do software está despencando
Outro ponto forte foi a constatação de que o custo de desenvolver software está caindo rapidamente.
Isso significa mais software customizado, mais soluções específicas e menos dependência de produtos genéricos. IA não elimina software. Ela multiplica software.
“Codar na mão não faz mais sentido”
Essa frase do Andrew Ng foi direta e provocativa.
“Codar na mão não faz mais sentido.”
Não significa que entender código deixou de ser importante. Significa que a forma como produzimos software está mudando. IA virou um amplificador brutal de produtividade.
Programar é saber dizer exatamente o que você quer
Andrew reforçou algo que eu concordo profundamente.
Todo mundo deveria aprender a programar. Não porque todo mundo vai virar engenheiro, mas porque programar é saber dizer exatamente para o computador o que ele precisa fazer.
Quem sabe programar consegue expressar instruções de forma muito mais precisa. Isso vale para código, prompts, agentes e qualquer interação com IA.
Novas habilidades básicas da era da IA
Ele fez um paralelo simples e poderoso.
Todo mundo deveria saber ler e escrever.
Todo mundo deveria saber fazer contas simples.
Todo mundo deveria saber fazer uma busca na web.
E agora, todo mundo deveria saber escrever um bom prompt, entender como operar um agente de IA e como estruturar contexto.
Isso não é diferencial. É alfabetização digital da próxima era.
Prompt, contexto e expectativas realistas
Outro ponto importante foi a analogia do prompt como um pedido para um estagiário.
Cada estagiário responde diferente. Cada prompt gera respostas diferentes. Ainda não temos agentes que melhoram de forma totalmente autônoma.
Reinforcement Learning é complexo demais para ser a resposta agora. A ordem correta ainda é: prompt e contexto primeiro, depois fine-tuning e, só em casos específicos, RL.
Dados continuam sendo o verdadeiro gargalo
Quando o assunto foi dados, veio uma verdade quase universal.
Todo mundo acha que seus dados são uma zona. Empresas grandes, médias e pequenas. Viu só? Você não é o único! E quando o Andrew está falando de "todo mundo", é todo mundo mesmo! A nível global!
A resposta não é mágica. É governança, princípios claros e arquitetura de dados bem definida, com camadas e responsabilidades. Você precisa aprender mais sobre IA para poder começar a estruturar melhor os seus dados e saber como extrair o melhor e maior valor que eles podem oferecer.
Sem isso, não existe IA sustentável.
IA permite criar o que nunca foi possível antes
Para fechar, Andrew trouxe talvez o ponto mais inspirador.
IA possibilita criar coisas que jamais foram imagináveis, em uma velocidade e facilidade nunca vistas. Mas isso só acontece se a gente sair do discurso e for construir.
Menos medo, menos hype e mais construção
Sair dessa palestra reforçou algo que eu já acreditava.
O futuro não pertence a quem observa a IA de longe. Pertence a quem aprende, experimenta, erra e constrói.
Andrew Ng continua sendo uma referência não porque prevê o futuro, mas porque ajuda milhões de pessoas a construí-lo.
E estar ali, ouvindo isso ao vivo, foi um daqueles momentos que a gente leva na mala junto com a convicção de que ainda estamos só no começo.



