IA Aplicada
Maturidade em IA para Executivos e Líderes
Se você acompanha o mercado, você já viu essa manchete mil vezes: “IA está transformando os negócios”.
E ela não é mentira. A adoção realmente explodiu. O levantamento global da McKinsey, "The state of AI in 2025: Agents, innovation, and transformation", aponta que 88% dos respondentes dizem que suas organizações usam IA regularmente em pelo menos uma função, acima de 78% no ano anterior.
Em contrapartida, esse mesmo estudo mostra que a um nível Enterprise, a maioria ainda está experimentando IA, ou em fase de Pilotos, com aproximadamente um terço das empresas dizendo que começaram a escalar as suas iniciativas de IA.

Só que esse dado costuma esconder o ponto mais importante: usar IA “em algum lugar” é muito diferente de transformar o negócio com IA.
O contraste fica evidente quando você coloca a régua do valor. A BCG reportou, no seu estudo "Where's the Value in AI?" de 2024, que 74% das empresas ainda não conseguiam mostrar valor tangível e escalado com IA. Em outras palavras, tem muito investimento, muita iniciativa e pouca captura consistente de resultado.
A pergunta que eu mais faço para executivos não é “vocês estão usando IA?”. Quase todo mundo está, nem que seja com um chatbot interno ou um copiloto de texto.
A pergunta real é: sua empresa tem maturidade para produzir valor com IA de forma previsível, repetível e governável?
TL;DR
Quase todo mundo já “usa IA”, mas poucos conseguem escalar valor de verdade.
Maturidade em IA não é ter o modelo mais avançado. É ter dados, processos, pessoas, plataforma e governança funcionando juntos.
A próxima onda é Agentic AI, mas a maioria das empresas ainda está em piloto.
No Brasil, o gargalo raramente é “falta de ideia”. Quase sempre é base de dados, integração, governança e execução consistente.
O que significa ser “Maduro” em IA, de verdade
Maturidade em IA não é sofisticação técnica. E aqui mora um erro comum, especialmente no Brasil, que é achar que o salto para a “empresa AI-First” é comprar uma plataforma, contratar um time e escolher um modelo famoso.
Na prática, maturidade é o quanto a IA está integrada na forma como a empresa opera, decide e entrega. É o quanto ela está “baked in” nos processos, nos dados, nos papéis e na governança, sem depender de heróis.
Eu gosto de pensar em maturidade como uma engenharia completa, não como uma demo.
E os dados da BCG reforçam exatamente esse ponto.

A BCG mostra que as empresas mais maduras em IA, os chamados de Líderes, geram 62% de todo o valor da IA diretamente em funções core do negócio, como:
Operações
Vendas e Marketing
Pesquisa e Desenvolvimento
Cadeia de Suprimentos
Enquanto muitas empresas ainda concentram IA em funções de suporte, como atendimento, TI ou RH, os líderes empurram a IA para onde o dinheiro é efetivamente criado ou protegido.
Isso não é coincidência. É consequência direta de maturidade.
Esse ponto fica ainda mais crítico com a ascensão e popularização dos Agentes de IA.
Agentes não são modelos "opinativos". Eles não precisam só responder bem, eles precisam decidir bem. Eles tocam processos, executam ações, interagem com sistemas transacionais e operam dentro do core da empresa.
Isso exige:
Dados confiáveis e contextualizados
Processos bem definidos
Integração com sistemas críticos
Governança clara
Controle de determinismo e risco
Sem essa base, a ambição vira fragilidade.
E é exatamente por isso que vemos tantas empresas "experimentando Agentes", mas poucas escalando com segurança. Como a própria McKinsey aponta, a adoção de Agentes ainda está concentrada em poucas funções, justamente onde a maturidade organizacional permite.
Os 5 pilares da maturidade em IA que eu vejo na prática
Eu vou usar cinco pilares clássicos, mas com a lente de quem vive projetos em ambientes altamente regulados e complexos, como bancos, grandes operações de varejo e plataformas digitais.
1. Dados
Dados não são “um ativo”. Dados são a infraestrutura invisível do seu resultado.
Empresas maduras em IA fazem o básico bem feito, garantir qualidade, catálogo, lineage, acesso, permissão e responsabilidade dos dados. Sem isso, a IA vira amplificador de inconsistência.
O dado curioso é que até organizações com alta maturidade continuam sofrendo com disponibilidade e qualidade de dados. Isso aparece em pesquisas do Gartner como um desafio recorrente em IA.
No Brasil, eu adicionaria um ponto a mais, a fricção de acesso. Muita empresa tem dado, mas não tem um caminho rápido, seguro e auditável para colocar esse dado no contexto certo, na hora certa.
2. Tecnologia e Plataforma
Maturidade aqui não é “estar na nuvem” ou passar por uma "transformação digital". É ter plataforma que sustenta o ciclo inteiro de desenvolver, testar, colocar em produção, monitorar, fazer rollback, versionar e auditar.
Se a empresa depende de scripts isolados, pipelines frágeis e integrações adhoc, ela não escala. Ela coleciona protótipos.
3. Pessoas e Cultura
Pra mim Pessoas é sempre o principal ativo. E IA não é um projeto do time de dados. E também não é um brinquedo do time de inovação.
Maturidade exige letramento de IA para negócio e para tecnologia, além de uma figura que eu considero crítica… o “tradutor”, alguém que entende o suficiente de técnica para não vender ilusão e entende o suficiente de negócio para priorizar valor.
Quando estou sugerindo uma estrutura de times de IA com interação com áreas de negócios, sempre sugiro o papel do AI Champion. Alguém que consegue fazer a ponte entre o técnico e a área de negócio. Preferencialmente alguém do negócio que conhece o básico dos conceitos técnicos e que ajuda a escolher e priorizar casos de uso, prototipar ideias e só levar de fato para o time de Arquitetura de IA o que for complexo o suficiente e tiver um retorno alto sobre o investimento.
Sem isso, o que acontece é previsível, ou o negócio pede mágica, ou a tecnologia entrega modelos sem adoção.
4. Processos
Uma empresa madura não “tem modelos”. Ela tem processos melhores, redesenhados com IA.
É aqui que a conversa sai do Hype e entra no ROI. Quando IA vira parte do fluxo de trabalho, com mudança organizacional, métricas e responsabilidade.
A própria McKinsey chama atenção para o ponto de que, apesar da adoção ampla, muitas organizações ainda não embutiram IA nos workflows o suficiente para gerar benefícios materiais em nível enterprise.
5. Governança e Ética
Esse pilar é o mais subestimado e o mais caro quando ignorado.
Em setores regulados, governança não é opcional. Ela define quem é responsável, quais são os limites, como se mede performance, como se trata alucinação, como se audita decisão e como se mitiga risco de privacidade e compliance.
O Gartner mostra que organizações mais maduras conseguem manter iniciativas em produção por mais tempo, justamente por escolher projetos com valor e viabilidade e por estabelecer governança e práticas de engenharia.
Os 5 níveis de maturidade em IA
Você pode nomear esses níveis de várias formas. O importante é reconhecer o padrão.
Nível 1: Experimental
A IA nasce em bolsões, geralmente com pessoas curiosas. Tem protótipo, tem entusiasmo, tem demo. Falta estratégia e falta dono.
Sinal clássico: todo mundo tem um piloto favorito, mas ninguém consegue explicar como ele vira produto.
Nível 2: Construtor
A empresa já tem algumas vitórias e começa a criar capacidade. Mas ainda está fragmentada. Cada área faz do seu jeito, com dados diferentes, ferramentas diferentes e pouca reutilização.
Sinal clássico: múltiplos chatbots, múltiplos “copilotos” e nenhuma visão integrada de risco, custo e valor.
Nível 3: Operador
Aqui a empresa vira adulta. Ela cria um Centro de Excelência (conhecido como CoE, ou uma iniciativa equivalente), define padrões, investe em plataforma, estabelece governança e começa a escalar casos de uso.
Sinal clássico: você vê IA em processos centrais, não só em “suporte”.
Nível 4: Líder
IA vira vantagem competitiva. Não é mais só sobre “eficiência”, é sobre estratégia. A empresa cria capacidades novas, muda seu modelo de operação e começa a redesenhar produtos e experiências ao redor da IA.
Sinal clássico: a liderança fala de IA como parte do plano, não como iniciativa paralela.
Nível 5: Visionário
A empresa não apenas adota, ela influencia o mercado. Cria padrões internos fortes, explora fronteiras com responsabilidade e tem capacidade de execução rara.
Sinal clássico: outras empresas estudam você.
O que quase sempre dá errado no Brasil
Vou ser direto aqui… o Brasil está faminto por IA! Mas ainda está construindo maturidade.
Os erros que eu vejo mais frequentemente:
Tratar IA como projeto cosmético, sem dono e sem métrica clara
Comprar tecnologia antes de consertar dados e processos
Confundir “prompt bom” com produto confiável
Ignorar governança até o primeiro incidente
Subestimar mudança organizacional e adoção
E agora, com Agentes de IA, aparece um novo risco, o de colocar autonomia em cima de uma base frágil.
Agentes exigem determinismo controlado, contexto bem montado, integração segura e limites claros. Caso contrário, a empresa cria um sistema que parece inteligente, mas é imprevisível e difícil de auditar.
Um framework simples para autoavaliação que eu usaria amanhã no seu time
Se você é executivo e quer uma avaliação rápida e honesta, aqui vão perguntas que costumam revelar o nível real:
Dados e Contexto
Nosso dado é confiável o suficiente para virar decisão automatizada?
Quem “possui” a governança dos dados e responde por qualidade?
Conseguimos fornecer contexto certo, no tempo certo, com controle de acesso?
Plataforma e Engenharia
Temos um caminho padrão para colocar IA em produção e monitorar?
Conseguimos versionar modelos, prompts, políticas e dados?
Integrações com sistemas críticos são robustas e auditáveis?
Pessoas e Decisão
Temos tradutores entre negócio e tecnologia? Quem seriam nossos AI Champions hoje?
A liderança sabe priorizar casos de uso por valor e viabilidade?
Temos capacitação mínima fora do time técnico?
Governança e Risco
Se a IA errar, quem é responsável e qual é o protocolo?
Existe política de uso, de privacidade e de explicabilidade?
Temos métricas de qualidade, risco e impacto?
Se você não gosta de frameworks, tudo bem. Use isso como checklist de realidade.
Como eu conecto maturidade com execução
Eu venho usando o Framework GUIDDE como mentalidade para iniciativas de IA, passando pelas etapas de: Goal, Understand, Innovate, Develop, Deploy, Evaluate.
Maturidade em IA é, na prática, fazer GUIDDE em escala, com consistência.
Goal: IA tem que estar amarrada a resultado de negócio.
Understand: sem entendimento profundo de dados e processos, você está apostando.
Innovate: explorar é válido, mas com hipóteses claras.
Develop: engenharia de produto, não “projeto de slide”.
Deploy: produção com observabilidade, controle e governança.
Evaluate: melhoria contínua com métricas e accountability.
Esse é o caminho para sair do piloto eterno e entrar na fase de valor recorrente.
Maturidade não é um destino, é uma vantagem acumulada
Se eu tivesse que resumir tudo em uma frase, ela seria: Maturidade em IA é a capacidade de transformar ambição em resultado, com previsibilidade.
A boa notícia é que isso é possível de se construir. A má notícia é que não dá para pular etapas.
E se esse conteúdo fez sentido para você, vale explorar os outros artigos aqui do blog. Tenho escrito com frequência sobre IA para Negócios, Agentes em produção, maturidade organizacional, governança e casos reais. Sempre escrevo com um mesmo objetivo em mente. Separar Hype de engenharia e ajudar líderes a tomarem decisões melhores.
No meu canal no YouTube, aprofundo esses temas com exemplos práticos, análises críticas e conversas mais diretas sobre o que realmente funciona quando a IA sai do slide e entra na operação.
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